resgata em mim o que é poesia oh tempo ! Curvo-me diante de ti não em lamento ou em palpável sofrimento Diante de ti meus joelhos se dobram na espera serena de tua oferta generosa
as mãos enrugadas se tocam ao som da valsa amena de tua arte ditosa contornos de poesia meu paladar acaricia um gosto de rima rica que a alma umidifica se o olhar do poeta contemplasse as fezes de sua poesia certamente haveria mais veracidade no versejar de cada dia Úrsula Avner
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sou de prata talvez de bronze ouro é precioso demais em cada gesto mais silêncio que estrondo hoje, passivo é o tempo cá dentro contempla o sol se pondo pardo amarrotado ás vezes sonolento e brando
enrolada nos trapos da mesmice olhava para si mesma com ar de desdém sem desejo de sorrir ou de lacrimejar também sentimento depois de revirado desbotado entornado se não muda petrifica o cair da tarde evoca lembranças de outras eras no chão de pele escura verte-se lágrimas de sangue explosiva mistura
a canção que invento tem brilho de ponta de estrela fagulha cuspida da implosão bucólica do sol quietude de riacho quando os peixes dormem sob águas serenas
a canção que invento pinga o suor das faces vincadas tem o pó das pisaduras intrépidas dos que trabaham em troca de pão o canto do pintassilgo que apregoa sua efêmera liberdade o vacilo das mãos quando tecem (versos)
a canção que invento tem o múrmurio das conchas a solidão da folha que da árvore quedou (se) a fugacidade das borboletas que voam e pousam pousam e voam num ballet intermitente e breve
a canção que invento colhe dejetos de becos sombrios percorre o íntimo do ser humano perscruta dores medos desejos a vulnerabilidade o peso do livre arbítrio
a canção que invento é lamento choro alagado que se deita sobre a retina e o coração e inscreve seu legado
quanto ao verso que não compus virou queixume de coisas lágrima e pus (es)correu nas narinas do tempo perdeu-se no vão dos sentimentos Faço versos ao embalo de canção uterina entendo ser essa a minha sina ouço a melodia que vem das entranhas voz de muitas águas que cantam na noite e no dia no riso e nas manhas Úrsula Avner
O firmamento em cor púrpura rajado se estende diante do meu olhar perplexo como um fino véu retalhado na memória postado em anexo
Pensamentos percorrem infindos lugares levando-me para além do sinuoso horizonte trazendo-me o desejo descrito em "Cantares" tornando-me ébria por ter bebido de sua fonte Quisera tocar seu corpo pela última vez transitar pela sua pele acetinada, beijar sua tez já me ausentei de toda sensatez Mergulhei profusamente no rio da paixão não me vejo pensando se há nisso alguma razão só quero deixar fluir os robustos desejos do coração Úrsula Avner * Cantares- se refere a um dos livros das escrituras sagradas
* este é um dos primeiros sonetos que escrevi e hoje pensei em postá-lo... Obrigada por sua visita !