quinta-feira, 29 de abril de 2010

* Cativas *



ferem-me a boca

palavras carcomidas

alojadas nos cantos

cortadas pela saliva

quando mordo a língua

lembro-me delas

ora morrem á mingua

ora são ávidas sentinelas


Úrsula Avner

* imagem do google - sem informação de autoria

segunda-feira, 26 de abril de 2010

* Incansável busca *

resgata em mim
o que é poesia
oh tempo !
Curvo-me diante de ti
não em lamento
ou em palpável sofrimento

Diante de ti
meus joelhos se dobram
na espera serena
de tua oferta generosa

as mãos enrugadas se tocam
ao som da valsa amena
de tua arte ditosa

contornos de poesia
meu paladar acaricia
um gosto de rima rica
que a alma umidifica

se o olhar do poeta
contemplasse as fezes
de sua poesia
certamente haveria
mais veracidade
no versejar de cada dia

Úrsula Avner


* imagem disponível no google imagens- sem informação de autoria

sexta-feira, 23 de abril de 2010

* (Sou)zinho *


arte : Pino Daeni


sou de prata
talvez de bronze
ouro é precioso demais
em cada gesto
mais silêncio que estrondo
hoje, passivo é
o tempo cá dentro
contempla o sol se pondo
pardo
amarrotado
ás vezes
sonolento e brando


Úrsula Avner

quarta-feira, 21 de abril de 2010

* Tédio *

arte : Mel Gama


enrolada
nos trapos da mesmice
olhava para si mesma
com ar de desdém
sem desejo de sorrir
ou de lacrimejar também
sentimento depois de revirado
desbotado entornado
se não muda
petrifica

o cair da tarde
evoca lembranças
de outras eras
no chão de pele escura
verte-se lágrimas de sangue
explosiva mistura

Úrsula Avner

domingo, 18 de abril de 2010

* Mistério *




já era

jaz

na espera

sonho mapeado

de incerteza

se não fosse

incerto

de certo

não seria sonho


deserto



Úrsula Avner


*imagem disponível no google imagens

quarta-feira, 14 de abril de 2010

* Canção singular *

a canção que invento
tem brilho de ponta
de estrela
fagulha cuspida
da implosão bucólica
do sol
quietude de riacho
quando os peixes dormem
sob águas serenas

a canção que invento
pinga o suor das faces
vincadas
tem o pó das pisaduras
intrépidas
dos que trabaham
em troca de pão
o canto do pintassilgo
que apregoa sua efêmera
liberdade
o vacilo das mãos
quando tecem (versos)

a canção que invento
tem o múrmurio das conchas
a solidão da folha
que da árvore quedou (se)
a fugacidade das borboletas
que voam e pousam
pousam e voam
num ballet intermitente
e breve

a canção que invento
colhe dejetos de becos sombrios
percorre o íntimo do ser humano
perscruta dores medos desejos
a vulnerabilidade
o peso do livre arbítrio

a canção que invento
é lamento
choro alagado
que se deita sobre
a retina e o coração
e inscreve seu legado


Úrsula Avner


* imagem do Google imagens

domingo, 11 de abril de 2010

* Andrógina*

tela: Vendedora de flores
by : Diego Rivera


meu caminho é inverso
ao caminho das coisas
penso andar
na contramão do mundo
em mim repousa
mistério profundo

não sei se quero partir
não sei se me dou
se devo sorrir
se arrisco voo de condor

quisera ir
quisera voar
para bem distante da dor
sem rumo, sem ter onde chegar

se hoje sou silêncio
já fui estrondo
voz de cachoeira
se hoje me rendo
já mergulhei rio adentro
canto de lavadeira

Úrsula Avner

quinta-feira, 8 de abril de 2010

*Falecimento*



sob a ponte

riacho tímido minguado

entoa sonífera canção

á margem de seus desafetos


somente a vegetação

rasteira na várzea

sabe de sua pacata existência

alimenta-se de sua essência


no trajeto da ponte
a vida corre

como se debaixo dela

a existência fosse apenas

uma imagem estancada no tempo



Úrsula Avner


* imagem do google- Antiga Porto Alegre RS



terça-feira, 6 de abril de 2010

* Dia de Maria *



Queridos (as) amigos (as) e visitantes ,


Tem poema de minha autoria no Maria Clara simplesmente poesia.


Clique aqui para conhecê-l0. Obrigada pelo carinho de sua

visita e comentário. Um abraço afetuoso a todos.



Úrsula Avner


* ando muito atarefada nos últimos dias, mas em

breve retornarei para visitar os (as) amigos (as).

domingo, 4 de abril de 2010

*Germinação*

quanto ao verso
que não compus
virou queixume de coisas
lágrima e pus
(es)correu nas narinas do tempo
perdeu-se no vão dos sentimentos


Faço versos
ao embalo de canção uterina
entendo ser essa a minha sina
ouço a melodia que vem das entranhas
voz de muitas águas que cantam
na noite e no dia
no riso e nas manhas


Úrsula Avner


* imagem do google

quinta-feira, 1 de abril de 2010

* Crepúsculo particular ( Soneto)


O firmamento em cor púrpura rajado
se estende diante do meu olhar perplexo
como um fino véu retalhado
na memória postado em anexo

Pensamentos percorrem infindos lugares
levando-me para além do sinuoso horizonte
trazendo-me o desejo descrito em "Cantares"
tornando-me ébria por ter bebido de sua fonte

Quisera tocar seu corpo pela última vez
transitar pela sua pele acetinada, beijar sua tez
já me ausentei de toda sensatez

Mergulhei profusamente no rio da paixão
não me vejo pensando se há nisso alguma razão
só quero deixar fluir os robustos desejos do coração


Úrsula Avner

* Cantares- se refere a um dos livros das escrituras sagradas

* este é um dos primeiros sonetos que escrevi e hoje pensei em postá-lo... Obrigada por sua visita !